quarta-feira, 23 de março de 2011

Só ser, só sentir!





“E quando escutar um samba canção que diz: ‘eu preciso aprender a ser só’. Reagir e ouvir o coração dizer: ‘eu preciso aprender a só ser’”, sábios são os conselhos de Caio Fernando Abreu.
Tenho a sensação de que as pessoas deixam sua vida passar em vão tentando aprender uma coisa que na verdade elas sabem desde que nasceram, vivem a espera de algo (alguém pra ser mais exata) que possa completar-lhes quando na verdade já nasceram completas, então quanto  mais buscam suas “metades” fora de si, mais se perdem da percepção de que elas são inteiras, sem peças fora do lugar ou faltando, e antes que vocês comecem a pensar que eu sou louca eu não estou aqui dizendo que as pessoas são capazes de viver em isolamento, sem se relacionar com o outro, eu estou dizendo que não é disso que depende sua completude, estou dizendo que entristecer-se e parar a vida por estar só é uma babaquice sem tamanho e que sua felicidade está atrelada a um sem-numero de coisas para as quais costumamos não dar valor por serem corriqueiras.
Todos os dias acordamos e o sol nos sorri com um estonteante bom dia e despede-se de nós com um aconchegante fim de tarde, ambos, dignos de serem aplaudidos de pé, mas nem sempre retribuímos a gentileza, dentre outras coisas citei essa porque, particularmente, sou apaixonada pelo nascer e pelo pôr do sol, são tantas coisas simples que nos passam despercebidas e que se procurássemos dar só um pouquinho mais de valor viveríamos tão melhor. Aqui mais uma vez dou voz ao meu amado Caio “a maioria das pessoas que conheço vive muito desatenta de estar vivendo. Elas parecem tão acostumadas com as coisas que estão em volta que é como se estivessem dormindo.” Chamaria vocês todos para acordar agora se meu grito fosse forte o suficiente, mas não é, gostaria de ver todas as pessoas sendo apenas pelo prazer de ser, mas isso talvez também não seja possível, mesmo com todo o potencial que eu sei que as pessoas tem, não isso também não é um texto de auto-ajuda e eu não vou pegar vocês pela mão indicando os dez passos para uma vida feliz, só esperava que se dessem conta do que perdem todos os dias.
Aprender a encarar a vida de peito aberto, a enxergar além, a viver, a ser, a reviver, a recomeçar, a amar não é do que precisamos, em minha singela opnião, nós precisamos mesmo é desaprender que só teríamos a coragem necessária para fazer estas coisas se estivermos com alguém segurando nossas mãos.

[Kika Santos]

quarta-feira, 9 de março de 2011

Todo carnaval tem seu fim!


É quarta- feira de cinzas e há quem realmente esteja só as cinzas depois de tantos alcoontecimentos, digo, acontecimentos de carnaval, todo mundo tem ao menos uma historinha para contar seja de seus amores ou desamores de carnaval, de seus porres, ressacas, tombos, tem as histórias das amigas que é risada garantida e durará pelo menos até que outra venha e apronte outra coisa.
A quarta-feira marca o fim do carnaval, à volta a vida normal, é o fim de certos amores eternos que não duram uma semana, é a volta de romances antigos que foram interrompidos por uma desculpa qualquer pouco tempo antes do início da folia e que agente sabe bem o que há por trás, é xingar o chefe por ter que estar no trabalho ao meio-dia, mas venhamos e convenhamos que ninguém merece ter que trabalhar no primeiro dia pós carnaval e ainda mais apenas por meio período né? Dá logo o feriado todo poxa, sua mãe seria bem menos xingada chefe garanto, afinal todo mundo precisa de descanso depois desses benditos cinco dias, enfiar-se na cama, tomar aqueles remedinhos efervescentes que servem para azia e que salvam nossas vidas, porque o tanto de besteira que agente come (ou não come, apenas bebe) é um atentado horrível aos ensinamentos de mamãe e então o que dizer do tempo que precisamos para absorver tudo o fizemos durante o carnaval? É meu bem são as ressacas morais batendo na porta e nem adianta usar a desculpa da amnésia alcoólica por que com certeza vai ter alguém pra lembrar-lhe de exatamente tudo logo é melhor que você lembre pra poder se defender não é? Há quem goste de aumentar só por pirraça, talvez em novembro a taxa de natalidade do país cresça.
 É por essas e outras que eu sou a favor de que a quarta-feira de cinzas vire quarta-feira da ressaca.
É por essas e outras que é melhor repensar a época do tudo pode antes de passar a não poder com o descontrole.
E finalizo com um trecho de Martha Medeiros que me lembra o pós carnaval "Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência?"
[Kika Santos]




quinta-feira, 3 de março de 2011

Entre olhares.


Era carnaval e obedecendo a um costume antigo da cidade interiorana onde moravam e muito, mais muito raramente mesmo se viam, era época de viajar para as cidades praieiras e curtir aquele sol de verão durante os cinco dias de intensa folia. Era a época do tudo pode, do tá liberado.
Coincidência ou não eles estavam na mesma cidade, coincidência ou não as casas alugadas para que passassem a curta temporada carnavalesca ficavam de frente uma para outra, coincidência ou não o que mal acontecia (leia-se quase nunca ou somente nunca) durante o ano todo em suas cidades de origem aconteceu no primeiro dia de carnaval, eles se entre olharam e por longos dois minutos o mundo parou tanto de um lado quanto do outro.
Era sábado ela acordou sem esperar muito desse ou até mesmo dos outros quatro dias que se seguiriam, colocou seu biquíni estampado em verde/azul/branco no qual as cores se misturavam de maneira interessante, calçou suas havaiannas das quais as cores não vem ao caso, mas que combinavam perfeitamente bem com o verde/azul/branco do biquíni, esqueceu o protetor solar como sempre e foi pegar seu sol a beira-mar, voltou para casa um tanto quanto "ardida" devido ao seu esquecimento anterior e decidida a não voltar mais a praia naquele dia, tomou banho, tentou esconder a vermelhidão do rosto e finalmente aprontou-se para sair de casa pela segunda vez no dia apenas para ficar no alpendre junto de seus amigos, já passava das três da tarde. Mal colocou seus pés para fora de casa e se perdeu naquele olhar. Logo mais a noite suas mãos suavam, sentia borboletas no estomago, seu corpo estava quente e a vermelhidão no rosto já não dava mais para ser escondida, neste momento tomou conta do esquecimento do protetor solar e descobrir que além do sol a beira-mar ela também pegou uma leve insolação, pensou em deitar-se, mas logo desistiu disso, é que aquele olhar a havia deixado inquieta para dormir, fez bem, pouco tempo depois ele surgia na porta da casa para conversar com a dona do olhar que também lhe perturbou. Suas mãos suavam mais ainda. Iniciaram uma conversa e por alguns instantes a cordialidade  e o embaraço gritantes naquela conversa eram irritantes, porém logo tudo se ajeitou e de um silêncio mutuo surgiu um beijo.
Os dias de carnaval se seguiram, eles estavam sempre grudados, felizes, radiantes, aproveitavam cada segundinho daqueles quatro dias restantes como se fossem morrer no segundo seguinte, o que realmente poderia acontecer afinal estamos sempre em perigo constante, mas eles nem pensavam nisso só queriam aproveitar, se curtir, se conhecerem melhor e assim o fizeram. Ela derretia-se toda quando ele elogiava sua beleza e inteligência com palavras tão sutis e gentilezas indizíveis, ele se pavoneava com o elogio dela ao seu sorriso perfeito e seu olhar mais do que penetrante.
Eles eram um casal quase perfeito, mas o amor era um amor de praia e estes em sua maioria, como sabemos, não sobem a serra e eles não foram a exceção.
Na quarta-feira de cinzas despediram-se de longe, talvez pra não terem a certeza de que tudo ficaria ali mesmo nas areias da praia, se perderam um do outro, mas com certeza um marcou a vida do outro de uma maneira diferente e eles nunca mais esqueceram os cinco mágicos dias em que estiveram juntos.


[Kika Santos]